Cirurgia crânio maxilo facial: tratamento das fraturas dos ossos do crânio
Prática esportiva representa um costume antigo e tradicional dos seres humanos desde os primórdios, onde se iniciou a disseminação das primeiras modalidades esportivas amadoras e posteriormente o aprimoramento para o contexto esportivo profissional, que avança de forma crescente em rápida expansão, ganhando largo espaço na mídia e conquistando cada vez mais adeptos e praticantes.
Sabemos que toda essa ascensão e popularidade da atividade física e prática esportiva é muito justa, pois não é a toa que inúmeros estudos científicos na área da medicina do esporte e metabolismo, nos revelam os benefícios preventivos e terapêuticos da prática esportiva para saúde humana, longevidade e qualidade de vida.
No entanto, como tudo na vida se faz dessa forma, existem também alguns pontos negativos em algumas modalidades esportivas que precisamos estar atentos, pois podem representar riscos graves à saúde de pacientes atletas ou adeptos, principalmente nos esportes de alto impacto, onde destacamos as injurias crânio-faciais, que podem se configurar como imprevistos acidentais com comprometimento das estruturas do crânio e face.
Os traumatismos na região do crânio e face, decorrentes da prática esportiva podem afetar com freqüência diversas estruturas, tais como a pele, os músculos, nervos, ossos e dentes, no qual na maioria das vezes, causam injurias (agressões) teciduais locais, tais como fraturas, luxações, dilacerações, rompimentos, dentre outros.
Nesse presente artigo, iremos abordar de forma mais detalhada os traumatismos que podem ocorrer na região do crânio (TCE), podendo gerar fraturas ósseas, bem como os respectivos tratamentos.
Fraturas dos ossos do crânio (fraturas crânio-faciais)
Ao abordarmos as fraturas cranianas, podemos destacar principalmente os tipos de fraturas do osso frontal (testa), pois correspondem a 5 a 12% das fraturas de face e sua principal causa são os acidentes automobilísticos, porém temos observado um crescente número de ocorrências desse tipo de fraturas na área esportiva, principalmente nos esportes de alto impacto. Dentre as fraturas que acomete a região crânio-facial, destacamos aqui nesse artigo, as fraturas cranianas do seio frontal (região do osso frontal, “testa”).
Fraturas cranianas do osso frontal / seio frontal
As fraturas de seio frontal podem acometer anatomicamente a parede anterior e/ou posterior, com ou sem envolvimento do ducto nasofrontal.
Os pacientes com fratura de parede anterior, sem deslocamento ou mínimo deslocamento na ausência de deformidades ao exame clínico, pode ser adotada uma conduta conservadora. Nos casos em que haverá necessidade de tratamento cirúrgico, priorizamos três estruturas, tais como: tábua externa do seio frontal (parede anterior), tábua interna do seio frontal (parede posterior) e ducto nasofrontal.
Sabemos que podem ocorrer variações durante o ato cirúrgico, quanto ao tipo de acesso utilizado, necessidade e material utilizado para fixação, tecido utilizado para obliteração do seio e do ducto e indicações para cateterização do ducto nasofrontal.
Técnica cirúrgica de reconstrução óssea craniana (seio frontal)
Pacientes que apresentam à tomografia computadorizada apenas depressão da tábua externa, associada à deformidade ao exame, requerem redução cruenta (redução cirúrgica) para prevenir uma provável sequela estética.
Já a cranialização, que consiste na completa ablação (remoção) da mucosa sinusal e remoção da parede posterior do seio, tem como indicações fraturas com comprometimento da parede posterior, principalmente na presença de cominução (fratura ósseas em vários fragmentos) ou deslocamento do fragmento ósseo, fístula liquórica persistente ou aqueles que necessitam de uma craniotomia anterior para um acesso neurocirúrgico. Sempre que um seio é cranializado, o ducto nasofrontal deverá ser obliterado (obstruído) para impedir a comunicação da cavidade nasal com a fossa craniana anterior, prevenindo infecções ascendentes e assim reduzindo as taxas de complicações.
Podemos mencionar que a causa mais frequente de mucocele frontal são os traumatismos dos seios frontais e do ducto nasofrontal, pois um ducto nasofrontal danificado, potencialmente não funcional deve ser identificado e tratado ou acompanhado por um longo período.
Autores que defendem anular o ducto chegam a dizer que a maioria das fraturas de seio frontal necessita de obliteração do seio e que, se durante uma exploração para redução de fratura de parede anterior houver evidências de lesão do ducto, o procedimento deve ser convertido em uma obliteração. Porém devemos ter cautela em intervenções do ducto nasofrontal, pois alguns autores advertem que a obliteração tem um potencial de morbidade significativo, como neuralgia frontal, deformidade, além da limitação para o seguimento radiológico de um seio frontal obliterado. Por isso, a cateterização do ducto com stents em uma tentativa de reconstrução funcional tem sido oferecida como uma alternativa mais desejável que a obliteração. Recentes publicações têm mostrado sucesso com uma variedade de métodos de cateterização do ducto nasofrontal. Os que defendem este procedimento relatam que, em fraturas que envolvam o ducto nasofrontal com a parede posterior relativamente íntegra, é melhor restabelecer a patência do ducto com um tubo de drenagem, preservando assim a função do seio. Porém, esse procedimento também não é livre de complicações, pois intervenções com canulação do ducto nasofrontal têm apresentado altos níveis de problemas a curto e longo prazos em cirurgias não endoscópicas e, em 30% dos casos, a patência não é mantida.
Assim sendo, podemos concluir que a decisão da técnica a ser empregada dependerá da abordagem profissional, gravidade e extensão da lesão e de uma completa avaliação clínica do paciente.
A cirurgia de escolha deve ser sempre a menos agressiva possível e basear-se na exploração e reparo das lesões. A cirurgia endoscópica nasal também deve ser sempre levada em consideração, e as técnicas de ablação (remoção), a cranialização e a obliteração do seio frotnal, são procedimentos com indicações cada vez mais restritas.
Considerações finais
Podemos concluir esse artigo dizendo que uma maior atenção deve ser dada na prevenção dos traumas esportivos, pois estes são a terceira maior causa dos traumas faciais, destacando-se nestes casos as fraturas dos ossos do crânio e da face (crânio-faciais). O traumatismo crânio facial pode ser considerado em uma injúria esportiva gravíssima, pois dependendo do tipo de trauma ocorrido, a evolução de um quadro de fratura craniana pode ser letal, em decorrência do comprometimento neurológico envolvido. As modalidades de maior risco são as de contato, ou de impacto, como: boxe, judô, karatê, jiu-jitsu, futebol, basquetebol, voleibol, handebol, mountain bike, motocross, dentre outras. Nestes esportes, as chances do atleta sofrer contusões crânio-faciais durante a carreira variam de 30% a 60% aproximadamente, podendo ocorrer choques, cabeçadas, cotoveladas, traumatismos crânio-faciais, fraturas nasais, ferimentos, até mesmo quedas acidentais ou agressões físicas como socos e pontapés. As cirurgias de tratamento das fraturas craniofaciais em decorrência da prática esportiva, tais como as fraturas do seio frontal que foi a abordagem de destaque nesse artigo, merecem uma atenção especial e cautelosa, uma vez que se trata de uma região que se não bem abordada cirurgicamente pela equipe, pode evoluir para graves complicações futuras.
Sobre o autor: Edson Carlos Zaher Rosa
O Dr. Edson Carlos Zaher Rosa é um profissional altamente qualificado e multifacetado, com formação em diversas áreas da saúde, educação e administração. É formado em odontologia, medicina geral, biomedicina, nutrição, educação física e ciências biológicas, além de bacharel em pedagogia e bacharel em administração. Possui diversas pós-graduações stricto sensu, incluindo doutorado em Ciências Médicas, Medicina e Cirurgia, mestrado em Cirurgia Oral e Maxilofacial e em Medicina Geral e Ciências da Saúde, entre outros. Possui formação lato sensu em áreas como cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial, otorrinolaringologia, endocrinologia, nutrição, medicina esportiva e do exercício, fisiologia humana e farmacologia clínica. Exerceu vários cargos e atividades relacionadas com a sua experiência e conhecimento, é membro de várias associações profissionais na área da saúde e é autor do livro "Nutromedicina". Atleta profissional de fisiculturismo, creador de vários projetos relacionados a ciências médicas, cirurgia, esportes, fitness e fisiculturismo.