O emprego de técnicas nutricionais para a aceleração do perioperatório e recuperação de pacientes intervidos cirurgicamente

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Com o crescente avanço tecnológico das ciências médicas, veio à tona também a importância do conhecimento dos fatores bioquímicos/ moleculares dos nutrientes para o equilíbrio homeostático do organismo e consequentemente, manutenção da saúde humana. Sabemos muito bem que os fatores bioquímicos contidos nos nutrientes tem uma importante influência no metabolismo humano, principalmente na fisiologia do sistema imunológico, ou seja, o emprego de nutrientes da forma correta contribui e muito para a saúde e longevidade, porém o contrario também é verdadeiro, uma alimentação desequilibrada, contendo ausência de nutrientes importantes e excesso de nutrientes maléficos podem deixar o organismo susceptível a uma série de desequilíbrios metabólicos, levando ao aparecimento de diversos tipos de doenças.

Com base nisso, podemos estender a aplicação das formas corretas de nutrição para diversos fins e objetivos, como estéticos, funcionais, preventivos e regenerativos.

Ao falarmos sobre os aspectos regenerativos do metabolismo, podemos citar a aplicação de nutrientes para fins cirúrgicos, ou seja, o uso de suplementação para pacientes submetidos a cirurgias. Nesse âmbito, destacamos a real importância do uso de determinados suplementos no período pré e também pós-cirúrgico, lembrando que após uma cirurgia, temos uma quebra da homeostase (equilíbrio) corporal, com diversas alterações metabólicas sofridas no organismo, devido à agressão estendida ao campo tecidual, celular e bioquímico, ocasionada pelo processo cirúrgico invasivo, ou seja, colocamos o organismo em um estado de estresse intenso, onde o desequilíbrio se faz presente. Podemos também estimular um processo de cicatrização e recuperação pós cirúrgica mais rápida, quando utilizamos nutrientes específicos que acabam por acelerar a resposta imunológica e reparadora do organismo.

Dessa forma, o paciente que se submete a uma cirurgia de pequeno, médio ou grande porte, tem sua recuperação muito mais acelerada e retoma mais rapidamente as suas atividades diárias do dia a dia, quando comparado a outro paciente que não utilizou nenhuma abordagem técnica de suplementação nutricional no período pós cirúrgico.

Diversos são os estudos científicos que vem nos revelando a real importância da nutrologia pós cirúrgica, que nos remete a adotar abordagens técnicas especificas para cada paciente, no intuito de potencializar a vias bioquímicas do organismo, visando a recuperação pós cirúrgica mais rápida e apropriada.

Sabemos que para os diversos os tipos de cirurgias, em regiões diferentes do organismo humano, temos como um dos principais fatores regenerativos, a oferta molecular de nutrientes, que irão estimular diversas vias metabólicas do sistema imunológico, promovendo o processo de cicatrização local.

A cicatrização é um processo dinâmico e imediato pelo qual o organismo tende a reparar os tecidos em resposta a uma lesão, sendo de fundamental importância para restituir as características anatômicas modificadas pela intervenção cirúrgica ocorrida Sendo assim, se faz necessária sempre a avaliação clínica do estado nutricional do paciente e o planejamento da ingestão de nutrientes via suplementação, entre o período pré e pós-operatórios, aonde o cirurgião deverá adotar os critérios cabíveis a cada paciente, levando em consideração a individualidade biológica de cada um.

Como dito anteriormente, intervenções cirúrgicas em qualquer região anatômica do organismo humano, podem ser beneficiadas pelas técnicas de nutrologia pré e pós cirúrgicas, levando a estados de recuperação pós operatórias mais precoces, no entanto aqui nesse capítulo do livro, damos um maior enfoque nas cirurgias do complexo anatômico crânio-maxilo-facial, que se estendem a diversos tipos de cirurgias que vão desde pequeno, médio, a grande porte, podendo culminar em períodos de pós operatórios longos e instáveis. As cirurgias crânio-buco-maxilo-faciais, sejam de origem estética ou reparadora, correspondem a um conjunto de técnicas e conhecimentos complexos e, cada vez mais, tem avançado em prol do restabelecimento funcional, estético e psicossocial dos pacientes. No entanto, os procedimentos realizados, podem envolver com freqüência a região anatômica do aparelho mastigatório, resultando como conseqüências pós operatórias, as drásticas dificuldades no ato alimentar do paciente, que eventualmente, poderão evoluir para complicações metabólicas secundárias.

Esse fato se reforça devido à necessidade do período pós-operatório ser marcado pelo emprego de uma dieta líquida, homogênea, rala e também restrita a leite nos primeiros dias, sendo que essas condutas se tornam necessárias para se evitar o depósito de resíduos nos pontos cirúrgicos, a proliferação bacteriana local e favorecer a manutenção do repouso do ferimento cirúrgico. Por outro lado, o resultado destas restrições alimentares pode expor o paciente ao risco de tornarem-se nutricionalmente debilitados e desidratados, podendo favorecer a uma perda de peso de 3 a 10 kg, em 45 dias após se submeter à cirurgia, nesse caso, o cirurgião poderá lançar mão de técnicas de nutrição parenteral.

Após submeter o paciente as cirurgias na região crânio-maxilo-facial, o cirurgião deverá estar atento, pois o quadro clínico do pós-operatório dos pacientes, poderá evoluir para sintomas como desconforto, anorexia, náuseas, queixas de dor local, além de significativas perdas ponderais e cicatrização deficiente, sérias deficiências nutricionais. Assim, as dietas hipercalóricas e hiperprotéicas tornam-se ponto comum, bem como a importância de se monitorizar a evolução do estado nutricional, para prevenir as complicações pós-cirúrgicas e garantir a eficiência do tratamento dietoterápico. Até a retirada do bloqueio maxilo-mandibular quando realizado, uma dieta a base de suplementação deve ser adicionada junto à alimentação líquida, revertendo assim à desnutrição protéico-calórica que pode ocorrer nesse período de convalescência, mantendo o bom estado nutricional do paciente submetido à cirurgia realizada, sendo que o organismo nesta etapa vai necessitar de uma suplementação extra de proteínas, sais minerais e vitaminas. Pela falta de apetite ocorrente, a cooperação do paciente em realizar refeições leves, nutritivas e fracionadas em intervalos curtos é fundamental para a manutenção da saúde sistêmica e de um pós-operatório bem sucedido. Porém, em casos restritos de descompensação metabólica secundária a patologias crônicas ou em pacientes portadores de necessidades especiais, deve-se considerar a nutrologia endovenosa, com a introdução de técnicas de nutrição parenteral, como uma abordagem de fundamental importância para a estabilização clínica dos pacientes no período pós-operatório, levando em consideração que é de responsabilidade do cirurgião a manutenção do equilíbrio homeostático de seus pacientes. Segundo a Portaria No 271/MS/SNVS- Abril 1998, a nutrologia endovenosa sob a técnica de nutrição parenteral, consiste no emprego de uma “solução ou emulsão, composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídeos, vitaminas e minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em recipiente de vidro ou plástico, destinada à administração endovenosa em pacientes desnutridos ou não, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando à síntese ou a manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas”.

Os suplementos comumente usados, seja na nutrologia enteral (via oral) ou parenteral (endovenosa), possuem em sua composição, nutrientes classificados como macronutrientes, que são as proteínas, carboidratos e lipídeos e também os micronutrientes, representados pelas vitaminas e minerais, ambos participando de diversos tipos de reações bioquímicas no organismo, em prol do equilíbrio metabólico e conseqüentemente demonstrando de forma bem sucedida, uma eficaz cicatrização tecidual e diminuição do tempo de recuperação cirúrgica.

NUTROMEDICINA MOLECULAR E REPARAÇÃO OPERATÓRIA EM CIRURGIAS CRÂNIO-BUCO-MAXILO-FACIAIS

A subnutrição pré-operatória de alguns pacientes, decorrente da deficiência molecular de proteínas, pode acarretar disfunções no DNA nuclear das células, comprometendo a eficiência do sistema imuno-endocrinológico, interferindo na homeostase metabólica, alterando a síntese de colágeno endógena, proliferação de fibroblastos, diminuição da angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos) e redução de proteoglicanos (proteínas estruturais), dificultando o processo cicatrizatório pós-cirurgico. Além disso, a deficiência de carboidratos, leva ao catabolismo protéico ou sarcopenia (degradação de proteínas musculares) e juntamente com o déficit de micronutrientes (vitaminas e minerais), como exemplos: retinol (vitamina A) , tiamina (vitamina B1), ácido ascórbico (vitamina C), zinco (Zn), dentre outros, pioram o quadro clínico do paciente. Nesse contexto, a nutromedicina exerce um papel fundamental, visto que muitos nutrientes podem influenciar as fases de cicatrização, por estarem envolvidos na reparação tecidual (síntese de novos tecidos), supressão da oxidação celular, otimização da cicatrização e auxílio na eficiência do sistema imunoendocrinológico. A recuperação pós-cirúrgica é composta por fases, onde alguns nutrientes como glicídios (carboidratos), proteínas, lipídeos (gorduras), vitaminas (A, C, K, complexo B), minerais (ferro, zinco, magnésio, etc), são fundamentais para replicação e proliferação de células, síntese de colágeno e neovascularização. Como dito acima, podemos dizer que determinados tipos de compostos, contidos nos suplementos alimentares, atuam de forma direta no processo imunológico e reparativo do organismo humano, auxiliando na melhora da resposta celular imunológica, manutenção da massa muscular em períodos pós-cirúrgicos, além de prevenirem possíveis complicações decorrentes de infecções, inflamações ou hemorragias pós-cirurgicas. Esses suplementos podem ser derivados de fontes Protéicas (Whey Protein, Caseína, Albumina), Carboidratos (Ribose, Maltodextrina, Palatinose, dentre outros), Lipídeos (Ácidos Graxos Monoinsaturados ou Poliinsaturados) e ainda compostos provenientes dos micronutrientes, que são as Vitaminas, Coenzimas e Minerais.

Segue abaixo, algumas funções bioquímicas e moleculares dos principais tipos de suplementos empregados no período pós-cirúrgico:

DERIVADOS PROTÉICOS: WHEY PROTEIN (PROTEÍNA DO SORO DO LEITE), CASEÍNA (PROTEÍNA DO LEITE), ALBUMINA (PROTEÍNA DA CLARA DO OVO), PROTEÍNA DA SOJA, GLUTAMINA, ARGININA, DENTRE OUTROS.

Nessa seção, cito como exemplo a proteína do soro do leite,conhecida pelo nome de whey protein, pela fácil digestão e absorção pelo trato gastrointestinal e também pela quantidade de estudos envolvendo tal composto, embora outras fontes proteicas também apresentem excelentes resultados no ponto de vista pós-cirúrgico.

A respeito da administração de estudos científicos, envolvendo a proteína isolada do soro do leite em pacientes intervidos cirurgicamente, os mesmos demonstraram uma melhora no quadro clinico referente a cicatrização e recuperação, com a alteração de diversos padrões bioquímicos celulares, resultando numa maior ação imunológica. Isso fato, deve a importante proteína presente no mesmo, chamada de Beta lactoglobulina, contendo muitos dos importantes aminoácidos que irão influenciar as defesas do organismo. Estudos demonstraram que uma dieta suplementada com mistura de Whey Protein (proteína hidrolisada), associada a um composto carboidrato, foi capaz de estimular a secreção do hormônio insulina, levando a maior disponibilidade de aminoácidos para transaminação, ou seja, formação de novas proteínas para compor os processos fisiológicos vitais de organismo humano, incluindo maior ação de macrófagos (células imunológicas), recrutadas com maior ênfase nos períodos que sucedem um ato cirúrgico. A ocorrência de uma depressão celular imunológica ou imunossupressão, se mostra freqüente em decorrência do ato cirúrgico realizado, liberando no organismo humano, uma produção excessiva de radicais livres que são amenizados com o uso de proteínas como whey protein, pois o mesmo estimula algumas enzimas antioxidantes, dentre elas, a glutationa peroxidase, que degrada moléculas de radicais livres no organismo, aumentando a ação imunológica.

Outra substancia com grande destaque em âmbito hospitalar de uso oral ou parenteral é o aminoácido Glutamina, pois a mesma apresenta-se como o segundo substrato principal do sistema imunológico, perdendo somente para a glicose, ou seja, a glutamina é uma importante fonte de energia para células responsáveis pela defesa orgânica como neutrófilos, macrófagos, células naturais killers (NK) e formação de anticorpos (imunoglobulinas). Outra função muitíssimo importante da glutamina é a formação de uma barreira gastrointestinal que se encontra na maioria das vezes, bastante prejudicada em pacientes operados, pela condição cirúrgica e também pelo uso de diversos tipos de medicamentos e presença de metais pesados, conhecidos como moléculas xenobióticas. Com isso, temos a ação da glutamina, favorecendo a diminuição da permeabilidade intestinal, ou seja, dificultando a passagem de substancias tóxicas e agentes estranhos, como vírus e bactérias, de entrarem em contato com a corrente sanguínea. Destaco ainda, outro importante aminoácido, conhecido como arginina, com diversos benefícios metabólicos na recuperação e defesa imunológica, pois a arginina participa da reação de vasodilatação arterial, atuando como molécula co-formadora de óxido nítrico no organismo, com isso temos um considerável aumento do fluxo sanguíneo corporal (perfusão sanguínea), levando a chegada de células de defesa mais rapidamente aos sítios inflamatórios ou infecciosos, além de promover maior aporte de nutrientes as células, levando a uma melhora na cicatrização das feridas ou acessos cirúrgicos.

DERIVADOS GLICÍDICOS/CARBOIDRATOS:RIBOSE, MALTODEXTRINA, PALATINOSE, DENTRE OUTROS.

Podemos dizer que o ato cirúrgico representa uma agressão ao organismo como um todo e não isoladamente ao local operado, nesse caso, o organismo, para se recuperar de um processo de estresse gerado por uma cirurgia, aumenta o seu consumo de oxigênio (VO2 Max), para ter um fluxo melhor de nutrientes para o tecido em questão. Com isso, um paciente em pós operatório, aumenta sua necessidade calórica, sendo necessário o emprego de estratégias nutrológicas pós-cirúrgicas com alguns suplementos glicídicos (provenientes dos carboidratos), de fundamental importância para o fornecimento de calorias suficientes para esse organismo, podendo entrar em questão o uso de suplementos calóricos como a maltodextrina, ribose, palatinose e dextrose, diluídos em sucos ou líquidos.

Os Carboidratos possuem relação direta com o sistema neuro-endocrinológico, uma vez que os mesmos tem um potencial estimulante e ao mesmo tempo inibitório de secreções hormonais (sistema de feedback hormonal). Isso se dá, pelas diferenças glicêmicas (glicose sanguínea), decorrentes do índice glicêmico de determinadas moléculas de carboidratos.

Carboidratos com um alto IG (índice glicêmico) são facilmente absorvidos e entram na corrente sanguínea com rapidez, elevando o nível de glicose no sangue de forma repentina (hiperglicemia). Por outro lado, o declínio tem a mesma rapidez, resultando na queda do nível de glicose no sangue, que chamamos de hipoglicemia. Quando isso acontece, o organismo mobiliza sua própria glicose e rapidamente acessa seus valiosos estoques de glicogênio (reserva de glicose hepática ou muscular). Sabemos que um esgotamento antecipado das reservas de glicogênio séricas, pode causar uma queda acentuada no desempenho metabólico, devido a uma concentração insuficiente de glicose no sangue, levando a deficiências no sistema imunológico reparador, podendo comprometer a recuperação de pacientes no período pós-operatório. A Palatinose, também conhecida como isomaltulose, apresenta propriedades moleculares interessantes na manutenção da eficácia metabólica pós-operatória, uma vez que se apresenta como uma molécula de carboidrato com baixo Índice Glicêmico, capaz de promover um estímulo de insulina mais prolongado e equilibrado, mantendo uma estabilidade sérica da glicemia (glicose sanguínea), com maior aporte de energia ao organismo por um período de tempo mais longo. Uma oferta de energia contínua ao organismo é capaz de melhorar a resposta auto-imunológica dos pacientes submetidos a processos cirúrgicos, uma vez que a glicose terá uma biodisponibilidade maior para nutrir células responsáveis pela reparação tecidual e metabólica.

Já a molécula de Ribose, também conhecida como D-Ribose, se trata de um componente estrutural importante, principalmente na composição do DNA e RNA celular, onde diversos estudos científicos apontam que a D-Ribose desempenha um papel intermediário em várias reações metabólicas do organismo, dentre elas, a via de pentose fosfato. Esta reação tem importância crucial para a síntese de energia celular, para a produção de material genético (RNA e DNA), e para proporcionar as substâncias utilizadas por certos tecidos para fazer os ácidos graxos e hormônios. Alguns órgãos do corpo humano também se encarregam em produzir a D-Ribose, porém a maioria das células humanas não tem capacidade bioquímica de produzir D-Ribose rapidamente quando estão submetidas a estresse metabólico prolongado ou extenso, como a privação de oxigênio (isquemias), após atividade física extenuante ou em fases de recuperação pós-cirúrgicas (períodos pós-operatórios), aonde pode ser necessária a suplementação desse composto para reversão de tal quadro metabólico em vigência.

DERIVADOS LIPÍDICOS INSATURADOS-ÁCIDOS GRAXOS MONOINSATURADOS E POLINSATURADOS (ÁCIDOS GRAXOS OMEGA 3)

Em relação às fontes de lipídios, podemos destacar os ácidos graxos Ômega 3, como o EPA (ácido eicosapentaenoico) e o DHA (ácido docosahexaenóico), pois os mesmos participam de diversas reações bioquímicas de homeostase no organismo humano, dentre elas, destacamos a considerável reação de antinflamação. Podemos dizer que boa parte das reações inflamatórias que ocorrem no organismo após cirurgias de médio a grande porte, é devido à geração de mediadores inflamatórios, como por exemplo, as prostaglandinas. Estudos clínicos, envolvendo pacientes com indicação para abordagem de nutrição parenteral após cirurgias complexas, verificaram que a administração de ácido graxo ômega-3, encontrado em óleos de peixes, é capaz de alterar os fosfolípides da membrana da célula, e pode ser usado em pacientes nos quais se deseja modular a resposta inflamatória, principalmente nos períodos pós-cirúrgicos, pois de um modo geral, as cirurgias acabam por danificar as membranas celulares do organismo que são compostas principalmente por fosfolipídios presentes no Ômega3. Apesar de possuir benefícios interessantes ao metabolismo de pacientes operados, vale ressaltar que os Ácidos Graxos Omega 3, devem ser usados com moderação antes das intervenções cirúrgicas, pois o mesmo possui ação anticoagulante, podendo favorecer a eventos hemorrágicos no período pós operatório, nesse caso a monitoração da dosagem deverá ser feita com cautela pelo cirurgião responsável ou pelo profissional atuante.

DERIVADOS VITAMÍNICOS E MINERAIS:

Nesse grupo de nutrientes, destacamos algumas substâncias que desempenham um papel direto nas reações metabólicas imunológicas de nosso organismo, dentre eles podemos classificar:

VITAMINA D3 (COLECALCIFEROL):

O sistema endocrinológico vitamina D é constituído por um grupo de moléculas hormonais, classificadas como secosteróides derivadas do 7 deidrocolesterol (7-DHC), incluindo o colecalciferol (vitamina D3) que é um precursor de 1,25 (di-idroxi-vitamina) D, conhecido como Calcitriol, sendo o mesmo a forma ativa celular. Esse composto vem ganhando cada vez mais destaque na comunidade científica, devido a inúmeras descobertas que vem surgindo a seu respeito, colocando essa molécula hormonal como uma substância participante em quase todas as reações bioquímicas do organismo humano, possuindo receptores e enzimas específicas em diversos tecidos do organismo, incluindo próstata, tecido ósseo, mama, região coloretal, sistema cardiovascular, gônadas, sistema músculo-esquelético, dentre outros. Atua ativamente no controle de funções essenciais á manutenção da homeostase sistêmica, tais como crescimento, diferenciação e apoptose celular, regulação do sistema imunológico, cardiovascular, músculo-esquelético e ainda no metabolismo de insulina. Estudos recentes, confirmam que a vitamina D participa em cerca de 3% do genoma humano, tendo em torno de 900 genes alvo-potenciais no organismo. A importância de suplementarmos essa molécula no período pré e pós operatório em cirurgias da região crânio-buco-maxilo-faciais, se dá pelo fato da mesma participar massivamente da regulação da síntese de proteínas estruturais, principalmente do colágeno tipo I, controlando o crescimento e diferenciação celular, estimulando a síntese de fibronectina e também na ativação da maturação de macrófagos (células de defesa), estimulando potentemente a expressão de genes responsáveis pela codificação de moléculas com ação antimicrobiana, tais como catelecidinas e B-defensinas, sendo dessa forma um composto primordial na recuperação pós-cirurgica de pacientes.

VITAMINA C (ÁCIDO ASCÓRBICO):

O ácido ascórbico conhecido popularmente como vitamina C é uma molécula hidrosolúvel que participa de diversas reações celulares, inclusive reações bioquímicas referentes ao sistema de defesa imunológica do organismo. O ácido ascórbico atua como um poderoso antioxidante e pode ser administrado em pacientes submetidos a cirurgias para acelerar o processo cicatrizatório e recuperativo, isso porque além de ser um antioxidante, a vitamina C atua também como substância co-formadora do colágeno. Sabemos que o colágeno é uma substancia constituinte da parede de vasos sanguíneos, pele e cartilagens, comumente lesionadas em intervenções cirúrgicas. O ácido ascórbico atua como cofator de várias enzimas no organismo humano, sendo as mais conhecidas a prolina-hidroxilase e a lisina-hidroxilase, envolvidas na biossíntese do colágeno.

VITAMINA E (ALFA-TOCOFEROL):

A vitamina E (alfa-tocoferol) é o maior antioxidante lipossolúvel presente em todas as membranas celulares e, portanto, atua na proteção contra a lipoperoxidação, podendo reagir diretamente com uma variedade de oxiradicais, como o superóxido, a hidroxila, dentre outros. Durante a sua ação antioxidante (destruindo a cadeia de lipoperoxidação) nas membranas, o alfa-tocoferol é consumido e convertido em forma de radical. Estando localizada perto do citocromo P-450 no fosfolipídeo da membrana, varre os radicais livres formados no citocromo P-450, tendo um potente efeito antioxidante. Com base nisso, suplementos a base de Vitamina E, podem ser interessantes quando inseridos na abordagem técnica de pacientes em período pós-cirúrgico, pois a mesma atua como componente essencial das membranas, mucosas e tecido epitelial, que se encontram muitas vezes lesionados pelo ato cirúrgico.

VITAMINA A (RETINOL OU BETA CAROTENO).

A vitamina A pertence ao grupo de vitaminas lipossolúveis, podendo ser encontrada no grupo de retinóides, cuja principal molécula é o Retinol e no grupo de carotenóides com a molécula de betacaroteno. Essas substâncias serão convertidas em vitamina A. A vitamina A também se mostra importante em dietas pós cirúrgicas, pois está relacionada a uma melhora na resposta imunológica de linfócitos B e T, responsáveis pelas defesas do organismo e bastante solicitados pelo corpo após uma cirurgia.

ZINCO (ZN)

O zinco é um mineral muito importante para diversos tipos de reações bioquímicas do organismo, pois atua nometabolismo de proteínas e ácidos nucleicos (DNA e RNA), estimulando a atividade de mais de 100 enzimas no organismo humano, sendo que no sistema imunológico parcialmente alterado devido a processos cirúrgicos, o zinco desempenha papel fundamental, pelo fato de as células do sistema imune apresentarem altas taxas de proliferação, e este mineral estar envolvido na tradução, transporte e replicação do DNA. O zinco pode, ainda, afetar o processo de fagocitose dos macrófagos e neutrófilos, interferindo na lise celular mediada por células natural killer e ação citolítica das células T. A influência direta do zinco no sistema imunológico no período pós-operatório de cirurgias crânio ou buco-maxilo-faciais, ocorre devido a este elemento estimular a atividade de enzimas envolvidas no processo de mitose, como a DNA e a RNA polimerase, timidina quinase, desoxiribonucleotidol terminal transferase e ornitina descarboxilase, sendo um componente que deve ser avaliado numa eventual abordagem nutrológica pós-cirurgica.

COBRE (Cu)

O cobre é um micronutriente com funções orgânicas específicas, constituindo enzimas com atividade de oxidação e redução, como a cobre-zinco superóxido dismutase, entre outras e, está envolvido com o metabolismo esquelético, sistema imunológico e na redução do risco de doenças cardiovasculares. Esse importante mineral, age como cofator de enzimas da cicatrização celular tecidual, auxilia na síntese de colágeno, proteínas, tecido conjuntivo, elastina, hemoglobina, eritrócitos (prevenção de anemia) e ossos, podendo ser abordado como uma estratégia suplementar em Nutromedicina pós-cirurgica.

FERRO (Fe)

O ferro é um mineral vital para a homeostase célula, possuindo ampla habilidade em aceitar e doar elétrons, sendo imprescindível para diversas reações biológicas. É componente essencial para a formação da molécula heme e participa da formação de diversas proteínas metabólica, sendo que na forma de hemoproteína, é fundamental para o transporte de oxigênio, geração de energia celular e detoxificação do organismo no período pós cirúrgico, pois participa como molécula formadora de enzimas responsáveis pela cicatrização, garantindo capacidade fagocitária dos neutrófilos (células de defesa)e na formação do colágeno.

MAGNÉSIO/ MANGANÊS/ SELÊNIO

Trata-se de importantes minerais com funções metabólicas abrangentes no organismo humano, tendo como principais funções, a ação antioxidante, auxílio na formação de enzimas responsáveis pela cicatrização, síntese do colágeno, proteínas e energia celular mitocondrial, podendo ser importantes estratégias na abordagem nutrológica, como suplementação pré e/ou pós cirúrgicas.

ANTIOXIDANTES

Os antioxidantes são compostos químicos que protegem o organismo humano contra o dano oxidativo, que frequentemente ocorre quando os radicais livres são produzidos por processos fisiológicos endógenos ou por traumas mecânicos como é o caso das intervenções cirurgicas. Nesse caso, em Nutromedicina aplicada em intervenções cirúrgicas, existe uma ampla indicação para uso de suplementos a base de substâncias oxidantes para os pacientes submetidos a cirurgias, com excelentes resultados recuperativos e cicatrizatórios. Dentre os compostos antioxidantes , destacamos brevemente, alguns como a Coenzima Q10 (Ubiquinona), o Resveratrol, o Licopeno, as Catequinas (presentes no chá verde, com destaque a EGCG), os Polifenóis, a Melatonina, o Magnésio unido ao Ácido Málico (Magnésio Dimalato), dentre inúmeros outros compostos existentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabemos que mediante a um processo cirúrgico, nosso organismo produz uma serie de substâncias inflamatórias e oxidativas, que em desequilíbrio podem prejudicar o resultado do procedimento cirúrgico, seja ele reparador ou estético. Com isso, entram em destaque as técnicas de nutromedicina mediante a suplementação de compostos relacionados à renovação celular e cicatrização tecidual, pois células do organismo humano são formadas por moléculas presentes nesses mesmos nutrientes que ingerimos diariamente. Sendo assim, a suplementação realizada em pacientes intervidos cirurgicamente em Cirurgia Geral e principalmente em cirurgias que envolvam a região da face e boca (Cirurgia Crânio-Buco-Maxilo-Facial), se mostra bastante eficaz no que diz respeito a recuperação cirúrgica e cicatrização pós operatória, devendo o mesmo ser sempre analisado pelo cirurgião responsável pré e pós cirurgicamente, para que possa ser melhor adequada a estratégia utilizada em cada paciente. Por fim, mostramos nesse capítulo, que o emprego de nutrientes específicos e dieta adequada no período pós-operatório, contribuirão para o aumento da resistência metabólica do organismo, favorecendo uma melhor oferta de nutrientes e manutenção do peso corporal, otimizando a resposta orgânica para cicatrização tecidual e prevenindo eventual complicações pós-cirurgicas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Sobre o autor: Edson Carlos Zaher Rosa

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O Dr. Edson Carlos Zaher Rosa é um profissional altamente qualificado e multifacetado, com formação em diversas áreas da saúde, educação e administração. É formado em odontologia, medicina geral, biomedicina, nutrição, educação física e ciências biológicas, além de bacharel em pedagogia e bacharel em administração. Possui diversas pós-graduações stricto sensu, incluindo doutorado em Ciências Médicas, Medicina e Cirurgia, mestrado em Cirurgia Oral e Maxilofacial e em Medicina Geral e Ciências da Saúde, entre outros. Possui formação lato sensu em áreas como cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial, otorrinolaringologia, endocrinologia, nutrição, medicina esportiva e do exercício, fisiologia humana e farmacologia clínica. Exerceu vários cargos e atividades relacionadas com a sua experiência e conhecimento, é membro de várias associações profissionais na área da saúde e é autor do livro "Nutromedicina". Atleta profissional de fisiculturismo, creador de vários projetos relacionados a ciências médicas, cirurgia, esportes, fitness e fisiculturismo.